RENOVAÇÃO DOS VOTOS: O “SIM” DE MARIA ECOA NA COMPANHIA

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A solenidade da Anunciação do Senhor é, para nós Filhas da Caridade, revestida por um diferencial celebrativo, que é a renovação de nossos Votos. Embora seja um momento particular da vida da Comunidade e de cada Irmã, é, igualmente, uma oportunidade de partilhar e envolver a comunidade educativa na reflexão e mística deste dia.

 

O Direito Canônico define os votos como “uma promessa deliberada e livre feita a Deus de um bem possível e melhor” (CDC 1191). A emissão/profissão destes é feita pelos/as consagrados/as como sinal de sua opção de vida por uma doação total, ao mesmo tempo em que confirma sua vinculação com a família/congregação a que pertencem. Além dos três votos comuns -  castidade, pobreza e obediência – algumas congregações podem assumir algum outro, conforme seu carisma fundacional. Para a Companhia, este quarto voto corresponde ao Serviço dos Pobres, em vista do qual são assumidos os demais.

 

Outra particularidade de nossos votos se relaciona como nossa natureza jurídica e canônica. Somos reconhecidas na Igreja como uma Sociedade de Vida Apostólica, o que imprime diferenças em relação às congregações e institutos religiosos, tanto do ponto de vista de organização e governo, como também no modo como vivemos nossa identidade de carisma. Nossa natureza é laical, assumida na ação apostólica em comunidade como resposta vocacional ao nosso batismo. Essa característica também define a concepção de nossos votos: são votos simples, privados e renováveis. Diferem-se dos votos religiosos, os quais são solenes, públicos e perpétuos. Essa característica remonta a origem da Companhia e o desejo de nossos Fundadores de que nossa vida e missão não estivessem atreladas ao regime e exigências da vida religiosa, até então restritos às experiências conventuais e contemplativas. A Companhia nasce para uma finalidade bem definida: servir Jesus Cristo na pessoa dos pobres por uma vida de “idas e vindas”, no serviço corporal e espiritual a eles. Assim, os votos são para nós a ratificação, ou seja, a confirmação de nossa vocação batismal vivida na doação total a Deus pelos pobres. Os votos não são fins em si mesmos, mas nos permitem viver com maior autenticidade e profundidade esse compromisso. Assumimos a castidade vivida no celibato para amar indistintamente a todos/as aqueles/as que a Providência nos confia, especialmente os mais pobres; vivemos a pobreza como libertação de todo apego que limite a nossa doação; optamos pela obediência como escuta da vontade de Deus que supera e amadurece nossas opções.

 

Nossos votos são experiências de liberdade de amor e serviço. Não são meramente renúncias, mas oferendas alegres e convictas em vista de um projeto maior que dá sentido à nossa vocação humana, eclesial e consagrada. O fato de serem renováveis não indicam provisoriedade, mas carregam uma espiritualidade de renovação permanente que nos envolve e impulsiona nosso ser e agir ao longo de cada ano. Renová-los no dia em que lembramos e celebramos o “faça-se” de Maria à aliança com Deus por meio da Encarnação, acalenta nosso compromisso de, como Ela, sermos nós hoje aquelas que encarnam Jesus e o projeto do Reino em nosso tempo e em nossa história. Nosso “sim” dado de forma simples, silenciosa e serena na celebração eucarística, é chamado a ser eco do “sim” que Ela proferiu ao Anjo Gabriel. Não é um “sim” dado a nós mesmas, mas Àquele que no seu coração nos gerou, em seu amor vocacionante nos chamou e enviou para servir. Celebrar esta data com aqueles/as que cotidianamente trilham conosco essa travessia de serviço nos fortalece e inspira; nos permite recordar e reafirmar a razão pela qual existimos.

 

Ir. Raquel de Fátima Colet, FC

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